Publicado em: 28/03/2020 13:57:58
Inicialmente registrado na China e posteriormente na Itália, o novo coronavírus chega ao Brasil, no estado de São Paulo, em meados de fevereiro, do corrente ano. Diante do cenário catastrófico que se configura no país e no mundo, o Grupo de Pesquisa em Geografia e Ordenamento do Território na Amazônia (GOT-Amazônia), da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), liderado pela Professora Maria Madalena de Aguiar Cavalcante, tem acompanhado a expansão dos casos COVID-19 no país, em especial, com um primeiro esboço do registro espaço-temporal dos suspeitos e casos confirmados no estado de Rondônia.
A confirmação do primeiro caso do COVID-19 no Brasil, mostra que, a circulação de pessoas no mundo globalizado, reflete a perspectiva difundida pelo geógrafo Milton Santos, a respeito da Globalização Perversa, quando afirma que, enquanto a ação humana se mundializa por meio da tecnologia – aparelhos e fluxo de capital - todavia essa perversidade apresenta a fragilidade da técnica e os avanços da tecnologia. No caso do novo coronavírus, não demorou muito para que se disseminasse nos demais continentes, atingindo todas as classes sociais, sendo ele, capaz de promover o fechamento das fronteiras, para proibir a circulação de pessoas, evitar a conectividade na tentativa de conter e minimizar as redes de contágio.
A pandemia que amedronta os brasileiros se originou no circuito da classe superior brasileira, com a chegada de um indivíduo da Europa que, ao retornar para o Brasil, faz com que o COVID-19 chegasse ao circuito inferior da sociedade brasileira, expandindo-se (Mapa 1) do Sudeste (ênfase SP e RJ), ao Nordeste (destaque no CE) e chegando ao Norte no mês de março.
Mapa 1
O avanço exponencial que se configura no país em relação à contaminação pelo COVID-19 e, sobretudo, com o registro do primeiro caso de morte (24/03/2020) na região Norte do Brasil, o GOT-Amazônia a partir das Geotecnologias, espacializou os casos suspeitos e confirmados no intento de, em um primeiro momento, evidenciar esse fenômeno na escala estadual. Certamente, a Ciência Geográfica pode contribuir na análise dos fenômenos sociais e naturais e ao se conectar com outras áreas do conhecimento, principalmente, neste momento de crise, evidencia a importância do monitoramento detalhado para o enfrentamento do vírus, que exige a quebra das redes de contágio.
O Covid-19 chega ao estado de Rondônia, por um indivíduo residente de São Paulo, que estava a trabalho no município de Ji-Paraná/RO. A partir do dia 14 de março, iniciam-se os registros dos casos suspeitos, em Boletins Diários, pela Agência Estadual de Vigilância em Saúde (AGEVISA) e a Secretaria de Estado da Saúde (SESAU), com destaque para o município de Ariquemes (09 suspeitos), seguido de casos suspeitos, em Cacoal (02), Ji-Paraná (02) e Porto Velho (02) (Mapa 2). Uma semana depois do primeiro Boletim Oficial, Porto Velho lidera o número de casos suspeitos, (89) no estado de Rondônia, seguido por Jí-Paraná (23), incluindo novos municípios com mais casos suspeitos.
Mapa 2
É possível verificar nos mapas, que as cidades acometidas por casos suspeitos e confirmados em Rondônia, possuem uma relação direta com fluxos de pessoas pela BR-364 ou aeroportos. A localização dos suspeitos ou infectados, torna-se uma estratégia para o retardamento da propagação, uma vez que, as medidas restritivas ainda são as melhores alternativas a serem tomadas, de modo a resguardar a população dos municípios onde o COVID-19 ainda não atingiu, ou até mesmo onde o contágio já ocorreu, mas como forma de evitar o aumento da contaminação em um curto espaço de tempo. Impedindo desse modo, um caos no sistema de saúde, como já amplamente divulgado nos noticiários, pois o mesmo não comportaria o atendimento, ao mesmo tempo, de uma grande demanda provocada pela pandemia.
Os registros diários do Covid-19, por município, como foi feito até o dia 22 de março deve ter continuidade, sem interrupção como foi o caso nos dias 23 e 24 de março (Gráfico 1), onde não ouve a divulgação dos dados detalhados. O retorno da divulgação se deu a partir do dia 25 de março, apenas para os dados totais do estado de Rondônia para casos notificados/suspeitos, o que não permite mais evidenciar a situação para cada município como demonstra o Gráfico 1.
Gráfico 1
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde – SESAU (2020)
O monitoramento diário, inclusive com os endereços dos casos, sobretudo os confirmados, torna-se importantíssimo para a espacialização e possíveis analogias, contribuindo significativamente para o enfrentamento do quadro que se torna cada vez mais preocupante, como demonstra o Gráfico 2, os casos confirmados, tem sido crescente.
Gráfico 2
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde – SESAU (2020)
Por se tratar de um vírus com grande poder de contágio, medidas e ações restritivas têm sido as mais indicadas para conter o avanço da contaminação. As polêmicas e pressões acerca de tais medidas têm sido propagadas, no entanto, conforme lembra Leonardo Boff (2020), até a presente data o novo coronavírus não pôde ser destruído, apenas impedido de se propagar. Essa conectividade em rede, é o que tem contribuido para a rápida circulação do virús, tem assustado o mundo, paralisando o convívio social, acarretando o isolamento da população, fragmentando as famílias, perdendo o domínio sobre a própria rotina que passa a ser controlada pelos representantes políticos de cada território.
Referências
BOFF, Leonardo. O coronavírus: a auto-defesa da própria Terra (2020), disponível em https://leonardoboff.wordpress.com/ acesso em 25 de março de 2020.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal”, Rio de Janeiro / São Paulo, Record. 2000.
Fonte: Grupo de Pesquisa em Geografia e Ordenamento do Território na Amazônia (GOT-Amazônia) - UNIR